segunda-feira, 8 de abril de 2013

POESIA


Santiago




Santiago, capital do Chile, foi o meu destino. Lá, iria passar uns dos melhores dias da minha vida. Sim, estava acompanhada de alguém muito especial. Fora isso, a cidade toda é um conjunto arquitetônico de belas paisagens e monumentos, alguns grandiosos e impactantes. Como brasileira, me surpreendeu o silêncio do trânsito, as diversas e completas ciclovias e o surpreendente pano de fundo: a cordilheira dos Andes.

É diferente conhecer Santiago como cidade turística quando seu guia é um sociólogo chileno que mora em Santiago desde sempre. Álvaro me mostrou o que considerava bonito e interessante na cidade e optou por me levar em lugares que não remetessem à ideia de consumo. Visitamos praças, restaurantes e bares ao ar livre, livrarias e uma casa de tango (El Cachafaz), onde pude realizar um sonho que nem sequer tinha feito: dançar tango de verdade.


El Cachafaz é um café-concert localizado numa espécie de "shopping lifestyle" chamado Bella Vista que fica no bairro Providência. Além de aulas de tango, milonga, salsa e outros tipos de dança, o lugar oferece pista de dança aberta depois de 22h e restaurante com pratos especializados na culinária chilena. Em alguns dias da semana há shows especiais e apresentação teatral. O lugar é bem agradável. Recomendo.

Percebi que os chilenos gostam de tango, milonga e salsa. É basicamente os estilos de música que fazem parte do repertório cultural do país. Então dançar tango (dança mais tradicional) significa dizer que você se deixa levar pela beleza triste do sofrimento amoroso e ser impactado por ele, mas ao mesmo tempo o conduz com sensualidade e firmeza.


Esqueci de mencionar que as diversas livrarias reunidas no centro da cidade é algo que não se costuma ver no Brasil e, por isso, também foi algo que me chamou atenção. Não só pela quantidade, mas pelo formato e também pela acessibilidade. Havia livrarias de todas as formas, cada uma mais convidativa que outra. Nem preciso dizer que tomamos uma tarde inteira para visitar algumas e comprar alguns livros e jornais. A experiência de algumas horas não me satisfez. Quando voltar, com certeza farei uma visita mais prolongada.


Nas livrarias, procurava por livros de Jesús Martín-Barbero, mas tive uma surpresa: os livros dele estavam esgotados! Juro mesmo. Questionei o porquê dos livros do autor supracitado terem praticamente sumido das prateleiras; a resposta: "é um dos autores mais lidos pelos pesquisadores e estudantes de comunicação da cidade". Surpresa ao dobro: não sabia que o Barbero era tão procurado assim. De livraria em livraria, encontro um livro que talvez me ajude a entender melhor alguns pontos do universo comunicacional no qual vivemos. O livro se chama "Los ejercicios del ver - Hegemonía audiovisual y ficción televisiva".


Passar por Santiago é também entender o significado que o poeta mais conhecido, mais lido e recitado do Chile representa. Neruda não foi só uma voz ecoada nas mentes e almas sensíveis; foi um homem que, com sua grandeza, desafiou a ditadura e a si próprio. O poeta representa a liberdade, a dignidade, a coragem e a força das palavras e das atitudes dos chilenos. Não foi somente a representação intelectual do país. Foi, antes de tudo, um destemido e notável guerreiro.